A forma como nos vemos se reflete nos relacionamentos afetivos e sociais. Mas que ter “boa” autoestima, é importante mantê-la estável. A frase do poeta francês Paul Valéry (1871 – 1945) “Já me detestei e já me adorei; além disso, envelhecemos juntos” exprime bem a relação que as pessoas mantêm consigo mesmas: uma “convivência” muitas vezes difícil.
Nos últimos 30 anos, pesquisadores de diversos países têm se esforçado para compreender aspectos da autoestima. O conceito envolve o que se pensa a respeito de si, os sentimentos que essas opiniões deflagram e seus reflexos aos relacionamentos afetivos, sociais e profissionais. Trata-se não só do olhar que lançamos sobre nós mesmos, mas das implicações desse juízo sobre a vida cotidiana.
Psicólogos e psiquiatras constataram que pessoas com autoimagem positiva podem ter mais facilidade para fazer boas escolhas. Além disso, se abatem menos com eventuais fracassos ou julgamentos alheios. Já as que nutrem baixa autoestima são mais críticas e tendem a se desvalorizar. Inseguras, hesitam em tomar decisões, temendo a opinião dos outros caso seus supostos pontos fracos sejam descobertos.
A forma como enfrentamos circunstâncias constrangedoras, reagimos às críticas, ao esquecimento ou à rejeição oferecem indícios a respeito de nossa autoestima. O apreço exagerado por si mesmo, porém, pode denunciar o desejo inconsciente de encobrir a própria falta de confiança. Segundo os psiquiatras e psicólogos, muitas pessoas que apenas aparentemente têm autoimagem elevada fazem, na verdade, avaliações instáveis de si mesmas, atribuem a responsabilidade pelos próprios fracassos aos outros ou às circunstâncias e não suportam críticas. Já aqueles com autoimagem sólida mantém mais facilmente a estabilidade emocional ao enfrentar adversidades.
O ser humano é um animal social por necessidade, o medo de ser rejeitado, que nasce muitas vezes da convicção de que os outros estão atentos aos nossos defeitos, provoca o mesmo efeito. Como a pessoa duvida de si mesmo e de sua aceitação social, vigia-se o tempo todo, convencida de que os que estão ao seu redor fazem o mesmo.
Manter a boa autoestima é importante para a saúde psíquica, mas nem sempre é fácil valorizar-se e respeitar as próprias limitações, sem usá-las para se torturar, sobretudo quando nos sentimos mais vulneráveis. Situações de crises ou de fracasso são propícias para o desencadeamento de quadros patológicos como, ansiedade, depressão ou bulimia.
Centrado no próprio sofrimento, o indivíduo irrita-se com as próprias dificuldades, repete incessantemente pensamentos depreciativos e se concentra em si mesmo, esquecendo o universo ao redor e estabelecendo um círculo vicioso.
Já a relação satisfatória consigo mesmo parece associada à relativa ausência desses monólogos interiores autocentrados. Quando é possível olhar para o mundo e realmente se interessar pelo que está fora de nós fica mais fácil suportar as próprias dificuldades. Alguns psicólogos acreditam mesmo é que a boa autoestima é como um motor que cumpre sua função de maneira silenciosa; facilita o vínculo com o mundo externo e o faz menos assustador.
*Artigo da psicóloga Ana Maria de Sousa, do Instituto de Neurociências do Piauí