O autismo é um distúrbio neurológico que acomete o desenvolvimento cerebral da criança. Nessa forma de desenvolvimento há uma maior dificuldade de comunicação social (linguagem verbal, linguagem não verbal e interação social). Além disso, existem interesses e comportamentos restritos e repetitivos.
Estima-se que no Brasil cerca de dois milhões de habitantes possuam autismo. Contudo, apesar dos números expressivos, os milhões de brasileiros autistas ainda têm dificuldades para encontrar tratamento adequado.
Joniel Soares, neuropediatra do Instituto de Neurociências do Piauí, responde algumas perguntas e esclarece dúvidas importantes sobre o distúrbio e o relacionamento das crianças autistas com o mundo.
Quais são os tipos de autismo?
Dr. Joniel Soares: Antigamente os autistas eram divididos em vários tipos. Desde 2013, com a revisão dos critérios diagnósticos, todos esses tipos estão agrupados no mesmo nome, o Transtorno do Espectro Autista (TEA). Essa denominação abrange as características comuns a todos os subtipos anteriores, justamente a dificuldade de comunicação social. O que existe hoje para identificar melhor as diferentes categorias de sintomas é uma classificação por gravidade. Eles podem ser divididos em casos leves, moderados e graves.
Quais as causas do autismo?
Dr. Joniel Soares: As causas do TEA não estão bem estabelecidas. Sabe-se que existe uma marcante participação genética tendo em vista que a chance de nascimento de uma criança autista é maior em famílias com casos anteriores. Provavelmente trata-se de uma herança genética complexa.
Quais os fatores de risco?
Dr. Joniel Soares: O principal fator de risco é o histórico familiar. Famílias com casos de autismo têm maior chance de nascimento de outra criança portadora de TEA. O autismo é três vezes mais comum em meninos.
Como identificar que uma criança tem autismo?
Dr. Joniel Soares: Algumas crianças manifestam os sintomas desde o nascimento. São crianças que ao mamar evitam olhar nos olhos da mãe, algum tempo depois crescem e não atendem pelo nome. No primeiro ano de vida demoram para falar as primeiras palavras e não gostam tanto de brincar com outras pessoas. Geralmente preferem brincar sozinhas e de “rodar” as coisas. Em geral são crianças agitadas e não param por nem um segundo.
Entretanto, outras crianças apresentarão o desenvolvimento normal até aproximadamente um ano de vida e só então iniciarão os sintomas do TEA.
Uma criança com autismo pode ter uma vida normal como a de qualquer outra criança ou existem muitas restrições?
Dr. Joniel Soares: Uma criança com TEA pode ter uma vida plenamente normal. A maioria das pessoas que apresentam sinais de TEA não sabe disso. Apenas uma minoria dos casos cursa com alterações significativas que geram dificuldades em maior ou menor grau. Ainda assim, apesar das dificuldades, com o diagnóstico precoce e o tratamento correto podemos maximizar as chances de uma vida dita “normal”.
Qual a maior dificuldade no tratamento do autismo?
Dr. Joniel Soares: As maiores dificuldades são a demora na realização do diagnóstico e a ausência de tratamento capacitado específico. O ideal é que todas as crianças com TEA fosse diagnosticadas até os dois anos de idade. Infelizmente isso não é comum. Muitas vezes por negação da família. E mesmo depois do diagnóstico muitas vezes é difícil encontrar profissionais preparados para as terapias corretas.
Qual a importância dos pais e educadores no tratamento de uma criança com autismo e sua inserção na sociedade?
Dr. Joniel Soares: São importantíssimos! Os pais são os principais terapeutas. São eles que irão conviver com a criança e elaborar estratégias de aprendizado para cada situação específica. Da mesma forma os educadores dividem esse mesmo desafio e muitas vezes são os primeiros a suspeitar que algo está fora do padrão. São peças chaves no diagnóstico e no tratamento.
Fonte: Ascom do Instituto de Neurociências